terça-feira, 1 de agosto de 2017

Desafios literários Agosto


Este mês desafiamo-lo a ler um livro que relate uma viagem interior ou exterior:

Em Abril de 1992, Christopher McCandless abandona um futuro promissor, a civilização, a sua própria identidade, doa os 25 mil dólares que constam do seu saldo bancário para fins de caridade e parte em busca de uma esperiência genuína que transcenda o materialismo do quotidiano. Rendido ao apelo ancestral e romântico da vastidão selvagem do longínquo Oeste americano, este jovem enigmático inventa para si mesmo uma nova vida e, sem o saber, dá início a uma nova aventura que mais tarde viria a encher as páginas dos jornais.

História mágica ou filosófica, romance histórico ou de formação, narrativa sobre o tempo ou viagem interior de um jovem alemão honrado e ávido de experiências, este romance envolve e enreda o leitor em teias mágicas que não mais o libertarão, entre a sátira e a seriedade, o humor e a ironia, a luz e o niilismo, numa sinfonia contra-pontística em que liberalismo e conservadorismo, decadência e sublimação, doença e saúde, espírito e natureza, morte e vida, honra e volúpia se sucedem num torvelinho que só a Primeira Guerra Mundial conseguirá dissipar. Quando as fundações da Terra e da montanha mágica começam a tremer, quando o mundo hermético feito de tédio, torpor e exasperação começa a abalar, por acção do trovão e do enxofre, das baionetas e dos canhões, é que o arganaz adormecido esfrega os olhos e começa a endireitar-se, saindo da sua tenaz hibernação, expulso do seu reino e dos seus sonhos, salvo e liberto, depois de quebrado tão longo e mágico encanto.

Islândia, século XIX: uma terra em que as forças da natureza, primordiais e misteriosas, ainda não estão inteiramente domadas pelo Homem. Ásmundur, jovem juiz e poeta, protagonista deste romance (inspirado numa figura histórica real), é chamado a julgar o seu primeiro processo, um desolador caso de incesto e infanticídio perpetrado por dois jovens irmãos denunciados pelos seus vizinhos camponeses. Será Ásmundur a ter de decidir se os dois irmãos são culpados. A sua viagem em direcção ao lugar do delito, no interior remoto do país, é uma odisseia através das origens de uma nação em que a natureza, os mitos e as sagas se contrapõem à sociedade racional e moderna que o homem quer construir. À medida que a história que opõe os irmãos aos seus vizinhos (um caso verídico descrito nos anais judiciais da Islândia) se vai desvelando, as firmes convicções do jovem juiz vão mudando a pouco e pouco. A prosa de Thor Vilhjálmsson é magistral em urdir subtilmente os diversos registos da narrativa (judiciário, político, religioso, onírico, lírico), fazendo deste livro uma obra-prima incontestável da literatura europeia contemporânea.


Uma viagem que se inicia na Cidade do Cabo e que Theroux, passando por Angola, queria que acabasse no Norte de África. Porém, após visitar Angola, o incansável viajante decide interromper o seu caminho ascendente. As experiências-limite por que passou, a dececção com a decadência, a colonização pelo materialismo ocidental, a omnipresença da corrupção e a perda da comunhão dos povos com a natureza terão feito desta a última viagem de Theroux ao Continente Negro. Angola sai maltratada deste livro, assim como muitas figuras de proa de organizações humanitárias que operam em África. Um documento impiedoso e gritante de atualidade.

A remota Patagónia, uma terra «no fim do mundo» é habitada por figuras errantes e exiladas, da gaúchos a foragidos, de mineiros peculiares aos índios da Terra do Fogo. Fascinado por este sítio desde a infância, o autor atravessa toda a região, desde Rio Negro até Ushuaia, a cidade no extremo sul, captando o espírito da terra, da sua história e da sua gente, e conferindo-lhe uma expressão poética e intensa. Num escrita prodigiosa, plena de descrições maravilhosas e histórias intrigantes, Na Patagónia narra as viagens de Chatwin por um lugar remoto contando histórias fascinantes que o vão atrasando no seu caminho.

«Agatha Christie escreveu quase cem livros, mas só um assinado Agatha Christie Mallowan: "Come, Tell Me How You Live", título da edição original deste livro. É "uma memória arqueológica" dos anos 30 nas escavações do marido, Max Mallowan. Os editores não gostaram. Não havia trama nem crime. Era como mostrar o álbum de férias a estranhos. O que é que os leitores dela tinham a ver com aquilo? Quase tão lida quanto a Bíblia, Mrs Mallowan não puxou dos galões. Disse que o livro era «uma frivolidade», como se falasse de um par de sapatos. Foi um sucesso, claro, e mais de sessenta anos depois continua em edição de bolso e politicamente incorrecto - vários turcos e pelo menos um árabe "sub-humano" saem daqui para a glória. Mas de ninguém a autora ri como de si própria, ansiosa, voluntariosa e volumosa.» Alexandra Lucas Coelho, «Prefácio».


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