sábado, 3 de setembro de 2011

As nossa sugestões - Setembro 2011

Título: As pequenas memórias
Autor: José Saramago

De quem se fala: José Saramago nasceu em Azinhaga, Golegã, a 16 de Novembro de 1922. Foi galardoado com o prémio Nobel da Literatura em 1998, o primeiro concedido a um escritor de língua portuguesa. Recebeu também o prémio Camões, a distinção máxima oferecida aos escritores de língua portuguesa. Escreveu entre outros O memorial do convento, Ensaio sobre a cegueira, e O evangelho segundo Jesus Cristo. Além de romances escreveu poesia, peças de teatro, crónicas, memórias e o livro infantil A maior flor do mundo.

O que se diz: O relato quatidiano próximo das lezírias do Tejo, em Almonda, no Mouchão de Baixo, das corridas entre os canaviais, nos passeios de barco de uma margem para outra, a procurar quantificar o amor e a identidade do "biografada", nas rua alcatroadas de Lisboa, é tão silencioso quanto tranquilo. Ruben P. Ferreira Os Meus Livros 46 (2006)


Está dito: «Foi nestes lugares que vim ao mundo, foi daqui, quando ainda não tinha dois anos, que meus pais, migrantes empurrados pela necessidade, me levaram para Lisboa, para outros modos de sentir, pensar e viver, como se nascer eu onde nasci tivesse sido consequência de um equívoco do acaso, de uma casual distração do destino, que ainda estivesse nas suas mãos emendar. Não foi assim. Sem que ninguém de tal se tivesse apercebido, a criança já havia estendido gavinhas e raízes, a frágil semente que então eu era havia tido tempo de pisar o barro do chão com os seus minúsculos e mal seguros pés, para receber dele, indelevelmente, a marca original da terra, esse fundo movediço do imenso oceano do ar, esse lodo ora seco, ora húmido, composto de restos vegetais e animais, de detritos de tudo e todos, de rochas moídas, pulverizadas, de múltiplas e caleidóscópicas substâncias que passaram pela vida e à vida retornaram, tal como vêm retornando os soís e as luas, as cheias e as secas, os frios e os calores, os ventos e as calmas, as dores e as alegrias, os seres e o nada».


Título: O livro dos homens sem luz
Autor: João Tordo


De quem se fala: João Tordo nasceu em Lisboa em 1975. Formou-se em Filosofia e estudou Jornalismo e Escrita Criativa em Londres e Nova Iorque. Em 2001 venceu o prémio Jovens Criadores na categoria de Literatura. Além de O Livro dos homens sem luz (2004) escreveu os romances Hotel Memória (2007), As três vidas, (2008, prémio literário José Saramago) e O bom Inverno (2010). Trabalha como guionista, tradutor, cronista e formador em workshops de ficção. Escreveu contos para diversas colectâneas , bem como séries de televisão e uma longa metragem. Os seus textos apareceram em publicações como Jornal de Letras, ELLE, Egoísta, Semanário Económico, Diário de Notícias e o Independente.


O que se diz: «O Livro dos Homens sem Luz é um romance surpreendente e arrebatador [...]Em nenhum momento o autor perde o domínio da prosa, a precisão das palavras, a parcimónia dos adjectivos, o rigos da descrição, a invenção surpreendente de situações no limite do verosímil e do suportável [...] Este livro faz-nos bem.» António-Pedro Vasconcelos Jornal de Letras
«Um exemplo de qualidade da nova literatura alternativa em português». Os Meus Livros


Está dito:«Porque acordou primeiro, Helena pôde ver o tecto precipitar-se sobre o quarto pequeno e abafado. Joseph ainda dormia quando ela se anichou, cobrindo a cabeça com as mãos, e talvez ainda sonhasse quando duas enormes vigas cederam, destruindo o grande armário de mogno que se abriu como uma noz, e o aquecedor que se desfez em cacos, só por milagre não atingindo nenhum dos dois. A bomba não caiu sobre a casa, mas no jardim comum a quatro casas, onde só cresciam ervas daninhas. O estrondo foi brutal mas estranhamente seco, propagando-se pelo espaço como o rufar de um trovão. Cessou com rapidez, e qundo cessou já Joseph e Helena se encontravam debaixo dos escombros, os olhos dele acabados de abrir e já arregalados como se presenciassem a criação de uma obra divina, a mulher prostada aos seus pés chorando».


Dom Quixote, p.79



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Título: O apocalipse dos trabalhadores
Autor: valter hugo mãe


De quem se fala: valter hugo mãe nasceu em Angola. Saurimo, em 1971. Passou a infância em Paços de Ferreira, vive em Vila do Conde. Licenciado em Direito, pós graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Vencedor do prémio José Saramago com o romance O remorso de Baltazar Serapião, O meu reino, considerado pelo Diário de Notícias o melhor romance português editado em 2004 e A máquina de fazer espanhóis, 2010. Dia 25 de Setembro sairá o seu novo livro O filho de mil homens.


O que se diz: A história de maria da graça e de quitéria, duas mulheres-a-dias e carpideiras profissionais que, a braços com desilusões e desconfianças várias acerca dos homens, acabam por cair de amores e, com isso, mudar radicalmente o que pensam e esperam da vida. Um romance sobre a força do amor e como ela se impõe como uma espécie de inteligência para salvar as personagens das suas condições de desfavor social e laboral.
Passado na recôndita Bragança, este livro é um elogio à força dos que sobrevivem, dos que trabalham no limiar da dignidade e, ainda assim, descobrem caminhos menos óbvios para a felicidade.


Está dito: «o senhor ferreira pegou no livro do rainer maria rilke e abriu ao acaso lendo versos breves. relia os mesmos versos como a saborear um vinho, depois lia alguns mais, voltando as páginas delicadamente. a maria da graça mantinha o ritmo do trabalho e ele parecia encontrar nos pequenos barulhos dos afazeres domésticos, e até na presença do portugal, um pano de fundo sustentável para a melodia dos poemas. parecia-lhe bem empregar Rilke naquele cenário e com aqueles actores, e dizia-o com um prazer solene, como se deitasse insenso sobre todas as coisas purificando-as».

Quidnovi, p.61


Autor: Milan Kundera


De quem se fala: Milan Kundera nasceu a 1 de Abril de 1929 em Brno, Checoslóváquia. No seu primeiro romance A brincadeira faz uma sátira da natureza do totalitarismo do período comunista tendo sido adicionado à lista negra do partido. Exilado em França escreve, em 1984 o seu mais famoso livro A insustentável leveza do ser, que viria a ser adaptado ao cinema. As suas obras mais recentes são A imortalidade, A lentidão, A identidade e A ignorância. Escreveu também uma peça de teatro e vários ensaios.

O que se diz: « Está lá o peso do exílio de Kundera, a repressão política, a amargura, a desilusão, o medo, mas também a esperança , a beleza, a devoção e o renascimento - valores projectados em cinco dias intensos por oito personagens de excepção». Ana Morgado Os Meus Livros 46 (2006)


Está dito: «O Outono começa e as árvores ficam coloridas de amarelo, de vermelho, de castanho: a pequena estância termal, no fundo do seu bonito valezinho, parece cercada por um incêndio. Por baixo das arcadas, há mulheres que vão e vêm e se inclinam para as fontes. São mulheres que não podem ter filhos e esperam que as águas termais as tornem fecundas. Os homens são bastante menos numerosos aqui, entre os curistas, embora alguns se vejam, uma vez que, segundo parece, as águas, para além das suas virtudes ginecológicas, fazem igualmente bem ao coração. Apesar de tudo, para um curista do sexo masculino, contam-se nove do sexo feminino, e isso enfurece a jovem celibatária que trabalha aqui como enfermeira e se ocupa da piscina das senhoras que vieram tratar-se da esterilidade»!

Dom Quixote, p.13

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Título: O canto da sereia
Autor: Nelson Motta

De quem se fala: Escritor, jornalista, compositor musical e produtor artístico Nelson Motta nasceu em S. Paulo a 29 de Outubro de 1944. Tem publicadas obras de não-ficção com grande sucesso no Brasil, como Nova York é aqui, Confissões de um torcedor e Noites tropicais. Estreou-se no romance com O canto da sereia, em 2002. Depois disso publicou o livro Bandidos e mocinhas, Força estranha e no próximo mês de Outubro sairá no Brasil A Primavera do dragão.


O que se diz: « ... depois de ler O canto da sereia, tenho a certeza que este homem não existe. É um sonho. Ou uma equação inventada em Nova Iorque. Equacionem comigo: um tipo que escreve, compõe e produz para as maiores estrelas da música brasileira, que comenta política e escreve livros notáveis sobre a História da Bossa Nova, que foi empresário da noite e crítico de música, produtor e jornalista, pode ainda ter talento para conceber e escrever a história do assassinato da musa de um Carnaval em Salvador? Não pode.
Pois bem pelos vistos, pode. O pior não é isso. O pior é que o faz com um talento que arrasa e impressiona. Nelson, peço-lhe do fundo do coração: não me surpreenda mais! Eu não aguento»
Pedro Rolo Duarte, Jornalista

Está dito: «Fogos e foguetes explodiam no meio da chuvarada, se misturavam a uma sequência de trovoadas. Um raio clareou a noite e no palco a cantora desabou como se tivesse sido atingida por ele, em macabra sintonia. Ao vivo, em rede nacional de televisão. Os músicos pararam de tocar, começou uma gritaria infernal nas calçadas e nas janelas, um pandemônio no trio, gente correndo para todos os lados. Atropelando quem estava no caminho, avancei pelo meio dos músicos e instrumentos, pulei no palco e me joguei sobre o corpo inerte da estrela, tentando protegê-la, mas quando olhei para seus olhos esbugalhados e vi o furo sangrento na sua nuca entendi que o que eu estava ali para evitar tinha acontecido. E eu não tinha nem ouvido o tiro».

Palavra, p.15

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