sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Zimler no Café com Letras


Foi na passada quarta-feira que Richard Zimler visitou a Biblioteca Municipal de Algés, em mais uma conversa do Café com Letras. Tivemos oportunidade de falar e partilhar a vida do homem e do escritor em mais de duas horas de convívio verdadeiramente agradáveis. Perante uma audiência considerável, Richard Zimler falou da obra e da pessoa, sem barreiras nem constrangimentos!

Um escritor que, como dizia Carlos Vaz Marques, "vive em Portugal, mas cuja pátria não é a língua portuguesa". Richard Zimler nasceu em Nova Iorque, no seio de uma família judaica laica, tendo trilhado caminhos diversos desde o estudo da religião comparada até ao jornalismo. Sinais de uma diáspora que terminaria no Porto, cidade onde reside. As suas primeiras tentativas de publicação foram árduas e infrutíferas, mas devido à sua insistência e ao trabalho da sua editora de sempre, Maria da Piedade Ferreira, a sua obra está aí e fala por si, não só em Portugal, onde já conquistou inúmeros leitores, mas, também, no estrangeiro, estando já traduzido em diversas línguas. Abona a seu favor todo o trabalho de tradução e cumplicidade existente entre si e a sua editora, de há muitos anos a esta parte.

O livro que serviu de pretexto à sessão foi o seu último romance intitulado "A sétima porta", o quarto do chamado ciclo sefardita iniciado com "O último cabalista de Lisboa". A história passa-se nos anos 30, em Berlim, capital alemã, no período de ascenção do regime nazi. Nas suas palavras, não deixa de ser curioso e incompreensível que Berlim, uma das capitais mais cosmopolitas da Europa, conhecida pela sua abertura, progresso e vida cultural, tenha servido de cenário à aurora de um dos acontecimentos mais terríveis e vergonhosos da história da humanidade.

Apontado, frequentemente, no meio judaico como anti-semita, em parte devido às posições tomadas na obra "À procura de Sana" e não só, Richard Zimler assume a sua condição de judeu não como um conjunto de rituais religiosos que constroem um sentimento de pertença a uma comunidade (cujo território último é Israel), mas como "um cidadão do mundo", cujas obrigações éticas e existenciais são mais profundas e vinculativas devido, justamente, ao que significa ser judeu na história da humanidade.

Ficou-nos o seu olhar e enorme vivacidade e a forma autêntica como exerce a sua vocação literária e humana. Será publicado em breve uma nova faceta da escrita de Zimler: um livro de contos. Certamente, um novo registo literário surpreendente!

2 comentários:

Sofia Sousa disse...

Óptima súmula duma sessão fulgurante!

(mesmo que o Tó ache que engraxa!!)

SS.

Anónimo disse...

Cara Ana Paula

Quantos livros já leu de Richard Zimler?