quarta-feira, 27 de junho de 2007

Tolentino no Café com Letras

José Tolentino Mendonça está, neste preciso momento, a trocar palavras com Carlos Vaz Marques na Biblioteca de Carnaxide, perante uma sala cheia. Acabou de dizer uma das coisas mais belas e simples que já ouvi em toda a minha vida: “a experiência do silêncio é a capacidade de viver o durante, viver o próprio caminho. E quantos de nós olham para a vida como um caminho?”
As pessoas que cá estão ouvem-no como se de uma experiência religiosa se tratasse. Porque será, não sei. Sinceramente, não me parece que tenha algo a ver com a sua formação em teologia ou com o facto de ser capelão da Universidade Católica. Parece ter mais que ver com o que Tolentino é, para lá de tudo isso. Tolentino é paz. Nas palavras, nos gestos, na forma como o discurso lhe desliza da boca para fora, na religiosidade simples, humana e “descomplicada”, no estar e no ser. Tolentino é um ser humano extraordinário!
Deixa-nos uma dica de leitura: para ele, o poema mais bonito que existe é o Cântico dos Cânticos, que ele próprio traduziu do hebraico. Segue-se um excerto.
Fazemos-lhe uma pequena homenagem, um agradecimento pela visita e pela partilha, com a foto que encabeça este post. O caminho.

Ah és bela minha amada és tão bela teus olhos são pombas
por detrás de teu véu
teu cabelo um rebanho de cabras que descem do monte Galaad
teus dentes rebanho de ovelhas tosquiadas que sobem do banho
todas geraram suas crias nenhuma há estéril entre elas
como fita escarlate teus lábios que formosa é tua boca
tuas faces são metades de romãs por detrás de teu véu
teu pescoço é a torre de David erguida sobre troféus
dela pendem mil escudos todos broquéis de valorosos
teus seios são dois filhotes gémeos de uma gazela
que se apascentam entre os lírios
antes que o dia expire e as sombras se alonguem
irei por mim ao monte da mirra e à colina do incenso
ah és bela minha amiga defeito não há em ti.
(…)

in «Cântico dos Cânticos», tradução do hebraico, introdução e notas de José Tolentino Mendonça, com ilustrações de Ilda David, Edição bilingue, Cotovia 1997
foto aqui

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